DIÁLOGO COM A MORTE

DIÁLOGO COM A MORTE

DIÁLOGO

Jorge Linhaça

Ó Morte , por que demoras?

Se a sorte é de mim madrasta

Mostra tuas garras agora

dilacera-me e me arrasta!

Tu, ó palida senhora,

que a tantos outros devastas

acelerai minha hora...

dilacera-me e me arrasta!

Não vês que a fauna e a flora

dia a dia se desgastam?

Deixai-me pois ir embora

dilacera-me e me arrasta!

Se a esperança vigora

em alguma estranha casta

abre a caixa de Pandora

dilacera-me e me arrasta!

Essa dor que me devora

corroi-me a sorte, nefasta

Só vejo as trevas lá fora

dilacera-me e me arrasta!

Por que? Direis, ó senhora,

( já tens trabalho que basta)

minha presença imploras

em meio a tanta desgraça?

Não sabes que a penhora

depende de maior graça?

Poeta, cala-te agora!

Pois teu tempo não se escassa

Quem pela morte implora

e piegas faz pirraça

à sua alma devora

e a dor, nunca mais passa.

Para tudo há sua hora

ninguém à vida trespassa

só por querer ir embora

com Creonte na barcaça.

Agora vou sem demora

há clientes sem trapaça

da vida não sou senhora

até quando ela se esgarça.

A ti retorno outra hora

Poeta Jorge Linhaça

Até lá conta a história

do que agora aqui se passa.

Então foi-se a morte embora

deixando cá o Linhaça

( Já raiava a aurora )

e o dia encheu-se de graça.