SONETO DA INFÂNCIA
Há dentro de mim qualquer coisa de sagrado
Que dorme intocável o sono ancestral e infinito
A infância corporificada na forma de um menino
Que vaga no vergel da memória, livre, irrestrito
Lá vai ele, saltando sobre as pedras da vida
Feliz, intemerato, fazendo artes e caçoadas
Corpo e espirito desintegrando problemas
Sorridente, cabelo desmanchado nas lufadas
Por que não o segui por ele, pela vida afora,
Algo domou a força indômita daquela criança?
Se aquele ímpeto de alegria era meu de fato
porque nada sobrou daquele porre de infância?
Tudo desabou, o infante virou esfinge inatingível
Acabou como se tudo fosse apenas um arremedo
Teria eu deixado que a consciência me dominasse
Porque será que deixei-me acorrentar pelo medo?