Memórias
Há no céu uma peneira de fogo.
Caem cascalhos de sol dessa peneira
que o vento venta em forma de poeira.
Nós, vítimas e réus de um jogo
que julga toda paz ser passageira,
que afoga o afago no desafogo,
e este só vem testemunhar à rogo
a dor da perda pela vida inteira.
Dispostas tal e qual as sentinelas,
no cesto de costura estão agulhas
e, bem na ponta de cada uma delas,
tão cegos quanto guelras nas marulhas,
os olhos retratados nessas telas
brilham raras memórias de fagulhas.