Soneto sobre Franca
Franca, cada traço em ti me lembra algum fantasma.
Cada gesto teu tem suas raízes em outro gesto -
Algo ou alguém perdido na profusão dos restos
De uma vida asfixiada pela saudade, como a asma
Que um remédio tardio não consegue acalmar.
Em cada quintal de lembrança há um rosto
E nos rostos as rugas vacilam a contragosto
(o olhar de quem não volta mais a este lugar).
O que se foi dos que ficaram? Frágeis lençóis
Amarelos manchados pelos risos indecentes
De quem não se despiu da própria fantasia?
E o que ficará dos que se foram? Os sóis
Inscritos na memória eterna de um poente
Irreversível como o caminhar dos dias?