Água Rude
Água Rude
(Soneto)
Ó saliva ancestral densa e salgada,
Por este mundo à areia segregada!
Ó véu de um turbilhão ébrio e faminto,
Que se insurge no idílico recinto!
Quantas vidas segaste em onda irada
Tu, monstruosa cólera danada?
E quantas sufocaste em teu absinto,
Com teu torpe carácter indistinto?
Desfazem-se em teu berço ondulatório,
Carcaças que agoiravam longitude,
Fazendo o sol e a lua seu velório!
Quiseste atraiçoá-las água rude!
Lançando o seu viver no purgatório…
Fazendo-te dos corpos ataúde.
André Rodrigues 17/12/2013
(Soneto em Memória dos jovens que foram surpreendidos por uma onda na Praia do Meco (Portugal), na madrugada do dia 15 de Dezembro de 2013, e cujo paradeiro é uma incógnita).