SONETINHO TUMULAR



Quando eu dormir... Rogo aos convivas
- Sepultem-me à grama d'uma pracinha!
Sem lamentos, sem choros, sem ladainhas
Em cerimônia, discretamente, festiva

Com fuguetórios... Mas, sem ogivas, rs
Sem ganidos, sem uivos, sem peninha
Sem mausoléu, sem túmulo, sem capelinha,
E sem qualquer inscrição alusiva

Pousem-me, definitivamente, ao ninho
De preferência... - Sob um banquinho -
Um banquinho de praça... Meio afastado

Pra q'eu possa, ao sono da sepultura,
Ouvir... E testemunhar a ternura
Do que diz, em cochicho, os namorados!

                                   Puetalóide



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POEMA À PRACINHA


Quando você dormir... Repousarei
Num banco de qualquer pracinha
Ou jardim... Imaginando-o comigo
Balbuciando juras ao amor infindo!

E no silêncio mórbido, sem gemidos!
- Em saudade, dor, tristeza e agonia -
Segurarei meu pranto, sufocando-o,
Na terna ilusão de ouvi-lo declamar
Teus sonetos líricos, exclusivos, belos,
Únicos!... Dedicados a mim!

Quando você dormir, terei partido
Do ninho!... Rumo ao infinito...!
- Abandonando o banquinho -
Sem olvidar por quem morri.
Do amor que não vivi...
... Naquela pracinha!

                       Liliane Prado



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***DESTAQUES***
- Comentário da Poetisa Sonia Villarinho -

Fico Imaginando a plaquinha ao lado do banco:

"Aos Enamorados"

Pisa bem devagarinho.
Repara o tanto de flor
Que acarpeta o chão
Ao lado desse banquinho!

São lágrimas de saudade
Que brotam do coração
De um Poeta apaixonado
Que aqui foi enterrado,
Segundo a sua vontade,
Pra passar a eternidade
Distribuindo amor!

             Sonia Villarinho


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- Comentário da Poetisa Luciana Araruna -

Que lindo soneto! 
Inspira outras poesias, então pensei:

"Cochichos Apaixonados"

Quando fixar-me na sepultura
Também não quero essa tristeza,
Os que ficam aqui nesta gastura
Sintam da morte a sutileza!

De passar a viver do outro lado
E os despojos, talvez numa pracinha
Sejam como jardim decorado
Sem choro, cerimônia ou ladainha.

E assim te imito nesse detalhe
Esperando que o amor se espalhe
Nas histórias ditas pelos namorados,

A poesia então continuará viva
Mesmo sem corpo estará cativa
Nos cochichos mais apaixonados!

                          Luciana Araruna