MEMÓRIAS*

Luciana Carrero

Se dormem ao longo da percorrida estrada

Divinas comédias, amores vãos, bobagens,

Memórias emergem da semente plantada

Nos campos e jardins de vívidas paisagens

A remembrança foi vivendo só e a esmo

E à companhia que chegava à sua porta

Dizia: nunca alguém rimou comigo e mesmo

Rimando, não quero, porque me sinto morta

O espectro do solitário sofrimento

Ao rigor do inverno estendia pesadelos

No corpo gélido do humano esquecimento

Jaziam neutras, enoveladas memórias

Mas em repentes buscaram aquecimento,

Já que nunca é tão tarde pra contar histórias

* Do livro inédito "Minha reta de escrever por linhas tortas" - Memórias de uma transexual,