MENDIGO

Sou tão assim um jeito doente
de ser, que nem lembro do dente
que dói. Há, no mundo, tanta gente
sem doença, que a vida é um presente.

Tarde, muito tarde, soube de mim.
Em meus lábios não cabiam carmim.
Nem a saia, muito menos o cetim
brilhante. Era eu, outro, enfim.

O retirante, a sobra, o vazio.
Incerteza, ou quase desvario
que ousou, rebelde, transpor o rio.

Pelas ruas da cidade estranha,
mendigo olhares, teço teias de aranha
que prendam carícias, mas nada me apanha.

 
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 27/11/2013
Reeditado em 15/12/2013
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