MENDIGO
Sou tão assim um jeito doente
de ser, que nem lembro do dente
que dói. Há, no mundo, tanta gente
sem doença, que a vida é um presente.
Tarde, muito tarde, soube de mim.
Em meus lábios não cabiam carmim.
Nem a saia, muito menos o cetim
brilhante. Era eu, outro, enfim.
O retirante, a sobra, o vazio.
Incerteza, ou quase desvario
que ousou, rebelde, transpor o rio.
Pelas ruas da cidade estranha,
mendigo olhares, teço teias de aranha
que prendam carícias, mas nada me apanha.
Sou tão assim um jeito doente
de ser, que nem lembro do dente
que dói. Há, no mundo, tanta gente
sem doença, que a vida é um presente.
Tarde, muito tarde, soube de mim.
Em meus lábios não cabiam carmim.
Nem a saia, muito menos o cetim
brilhante. Era eu, outro, enfim.
O retirante, a sobra, o vazio.
Incerteza, ou quase desvario
que ousou, rebelde, transpor o rio.
Pelas ruas da cidade estranha,
mendigo olhares, teço teias de aranha
que prendam carícias, mas nada me apanha.