Soneto ou Poesia?
E não faço milagre, digo e confesso,
Meu progresso é um peixe afogado.
Mergulhado, esse bagre, em meu verso
Tão inverso, foge do feixe pescado.
É pecado, é um sagre ao sucesso
Tão perverso, em praxe e engessado,
Travado no verso, usagre... Traço
Um recomeço, um axé ao meu fado.
Compor sem mestrado, inventando o verso,
Eu vou, par e passo brincando com a rima,
Por baixo e por cima, seguindo o compasso
É grande o espaço e favorável é o clima.
Obra prima! Direito que a todos abraça...
Te anima e desfila, oh meu feito, na praça.
JRPalácio
Eu também não mascaro, fico nelas, por elas
Passa o tempo e na mesma o esforço que eu faço
As palavras são vivas e florescem tão belas
Sempre inútil rever ou conter o despacho.
Dançam, bailam festivas, cardumes, fogacho
Quase sempre atropelam e deixam sequelas
Nestas danças solenes, sou eu que me encaixo
Sigo escrava do tema, sem criar mais querelas.
Sem me opor eu me animo a expor na janela
Na expressão mais feliz que me enleva e me acalma
Num aceno qualquer ao passante do além
Que me fale, ninguém, mas eu fico naquela
Tal o bobo da corte, sem temer nesta calma
A alegrar o cenário mesmo ganhe o desdém.
ANA MARIA GAZZANEO