+ANTAGÔNICO+ -sonetos duplos-

Pensamento em sinapse, agônico -/- Não poderia ouvir meu cântico

Esquecido por um torpor, atônito -/- Em meu linguajar tão simétrico

Sentindo em seu veneno acônito -/- A verve do meu ser tão tétrico

Este universo da mente lacônico -/- Meu português não "semântico"

Assim, não penso nada armônico -/- Neste pequeno passo, quântico

Na êmese da mente, meu vômito -/- Que represento um ser patético

Da boca vai meu verbo, indômito -/- Quiçás, que meu dizer profético

Como meu semblante antagônico -/- Poder parecer um tanto dântico

O incontido louco bradou leônico -/- Naquele orbe, o ente caquético

O grito mudo que ecoou, afônico -/- Daquele meu peito, esquelético

Meu cérebro já irradiou, atômico -/- Soltou, o mesmo berro, idêntico

Inferno não pode ser harmônico -/- Como este verso, já tão mirífico

E ao céu de perfeição, platônico -/- Imploro, em meu pensar pacífico

Ir pintando esse quadro, cômico -/- Que seja dele, sempre autêntico

Valdívio Correia Junior, 13/11/2013

Os sonetos duplos são dois textos distintos onde um completa o ou-

tro, dentro de um mesmo contexto. Também podem ser lidos como

um único texto, linha por linha, que ainda assim terão o mesmo sen-

tido. Vale observar a estétca, a sonoridade e as rimas semelantes.