FUGA
Quando a tristeza punge o coração
E a dor soluça no âmago do peito,
O espírito da gente há de ter jeito
De ver na própria dor, consolação.
A vida é um nada. Como nada a aceito,
Por não lhe achar melhor conceituação.
A dor, eu a transformo em vinho e pão
Com que alimento o espírito e o deleito.
Molho, para sorrir, no pranto os lábios,
E faço gargalhadas de ressábios,
Como se armasse à dor, uma cilada.
Nessa fuga de riso em que me embalo,
O sofrimento escondo, e me regalo,
E me convenço de que a vida é um nada...