SONETO A JUDAS

Amar o próprio Judas não é coisa

A quem não renuncia altar vetusto,

A tantas crenças vãs que a muito custo

Turvam o pensamento, frágil loisa.

Amá-Lo contra todos os discursos

É ter a mente sã do criminoso

É sentir afinal o imenso gozo

De trair o que trai nossos excursos;

Ter na boca malditos padre-nossos:

“Ó Senhor, vinde Vós a nosso Reino

Reduzir as doutrinas a destroços;

Revelai as agruras do desejo,

Todo o mal desta vida na qual treino

Beijar os meus irmãos com vosso beijo.”