Soneto da Cópula Esculpida

Nesta, cuja memoria esquece à Fama,

Feira, que de Sanct'rem vem de ano em ano,

Jazia co'uma freira um franciscano;

Eram de barro os dois, de barro a cama:

Co'a mão, que à virgindade injurias trama,

Pretendia o cabrão ferrar-lhe o pano;

Eis que um negro barrasco, um Frei Tutano

O espetáculo vê, que os rins lhe inflama:

"Irra! Vens me atiçar, gente danada!

Não basta a felpa dos buréis opacos,

Com que a carne rebelde anda ralada?"

"Fora, vis tentações, fora, velhacos!..."

Disse, e ao ríspido som de atroz patada

O escandaloso par converte em cacos.

(Bocage)

Américo Paz
Enviado por Américo Paz em 29/08/2013
Reeditado em 29/08/2013
Código do texto: T4457601
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