Processo autóptico.
Chegará o dia, aquele momento,
Que é sabido por todos e que um dia vem,
Desse dia não escapará ninguém,
É o dia, enfim, do passamento.
Aí o jazigo, a pedra fria, o cimento,
Um paletó para a viajem ao além,
Já não servirá pra nada o vintém
Ou o milhão de quem foi sempre avarento.
Não viveu, só juntou o cascalhento,
Não gastou com o lado bom que a vida tinha
Ao invés d’um bom filé só uma sardinha.
Agora vê o filme em seu final: último alento!
Conclui-se então o processo autóptico:
O finado viveu pobre e morreu rico.
JRPalácio
O infeliz viveu pobre e morreu rico
Juntou a sua grana para nada.
A sua sina foi juntar pra urubuzada
Lá no caixão com certeza paga o mico.
Ah! como é tolo o homem avarento.
Negou aos seus, seus bens vida abastada
Mas ao morrer sua riqueza é usurpada
Piada é no seu final, sepultamento.
Vão fazer festa a viúva e seus herdeiros
Dele rirão seus antigos companheiros
Farão galhofa da sua avareza.
Repartirão seus despojos sobre a mesa.
Não restará nem memória de seus bens
Será lembrado na verdade, por ninguém!
Ana Gazzaneo