ROSA DE VIDRO

Eclode ao solo seco a rosa em vidro e espinho

que brilha e queima ao sol de bruta incandescência;

pisada, a aguda rosa fura, rasga o alinho

e os pés despidos do homem cego de inocência...

Que mancha em sangue a trilha, crava no caminho

langor de andar chagado a rumo de incoerência,

destino bambo, solto em mole torvelinho

tornando cisco ao vento a vã reminiscência.

A rosa aflora a chaga (bela e tão nefasta),

mostrando a face carne viva (a rosa incasta)

no corte aberto que, manente, se renova.

E o débil homem se arrastando na secura

do solo bravo, todo em rosa vítrea e dura,

sugado e doido em dor, escava a própria cova.