Soturno

Quantas vezes eu ainda verei o ocaso,

Cá ele é rubente e não da cor do ouro;

Mas já anda velho o meu pobre couro,

E não sei se tudo não é somente acaso.

Não queria ser comigo assim tão duro,

Mas para mim a vida é grande descaso,

Vivo como relógio velho, sou só atraso;

Eu não tenho mais um sentimento puro.

O nascer do sol todo dia é um milagre,

Mas eu espero apenas o diário vinagre,

Pois eu já ando calejado de sofrer tanto.

Se o sol fosse para mim igual um manto,

Que me esquentasse e me tornasse santo,

Não viria a vida com um gosto tão agre.

Le Roy
Enviado por Le Roy em 05/08/2013
Código do texto: T4420770
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