Soturno
Quantas vezes eu ainda verei o ocaso,
Cá ele é rubente e não da cor do ouro;
Mas já anda velho o meu pobre couro,
E não sei se tudo não é somente acaso.
Não queria ser comigo assim tão duro,
Mas para mim a vida é grande descaso,
Vivo como relógio velho, sou só atraso;
Eu não tenho mais um sentimento puro.
O nascer do sol todo dia é um milagre,
Mas eu espero apenas o diário vinagre,
Pois eu já ando calejado de sofrer tanto.
Se o sol fosse para mim igual um manto,
Que me esquentasse e me tornasse santo,
Não viria a vida com um gosto tão agre.