I - Inverno

Final de amor, severo e frio inverno,
a desesperação. Intensa neve
caindo dentro d’alma, lenta e leve,
gelando a vida, que se torna inferno.

Momento triste que parece eterno,
nem soluçar, sequer, o ser se atreve,
na dor infinda do momento breve,
da morte de um amor que foi superno.

E neva n’alma a dor voraz, contunda,
da solidão maior - a mais profunda -
do triste fim do amor, mortal ferida.

E a neve, enfim, congela o intenso pranto
deixando, dentro em nós, o desencanto,
a sensação de morte em plena vida!
 
Brasília, 17 de Outubro de 2011.

***

II - Primavera

Passado o frio inverno a primavera
alegra o coração trazendo flores,
os colibris, sorvendo os seus licores,
evocam tons e essências da quimera.

E tudo tem um tom de sonho. E a hera
enlaça os muros, sem quaisquer pudores,
com seus mil braços, cheios de verdores,
depois do longo frio e tanta espera.

Enfloram girassóis, jasmins e rosas,
também as laranjeiras perfumosas
que acalmam sempre a dor da solitude.

Enfloram corações desencantados,
que vibram de paixão, enamorados
e sonhos ganham luz e concretude.
 
Brasília, 5 de Agosto de 2013.

***

III - Verão

Na força da paixão, que aquece a vida,
os corpos buscam mares de prazer
(é tempo de luxúria, de lazer
e não de cultivar qualquer ferida).

Nos corpos nus a areia ressequida,
beijada pelo sol, desde o nascer,
entranha-se na pele, em todo o ser,
mergulha dentro a taça de bebida.

As noites são pequenas para amar,
os longos dias passam devagar,
e assim se passa o rápido verão.

Desejo – interno sol queimando em brasa –
escapa pelos poros, cria asa,
na força desmedida da paixão.


Brasília, 5 de Agosto de 2013.
 
***

IV - Outono

O outono se desnuda e joga as folhas
que vagam pelo chão, entristecidas,
quais nossas fantasias desmedidas,
que logo se desfazem feito bolhas.
 
Soturnas, sem desejos, sem escolhas,
assim se vão e voam, tão vencidas,
ficando, pouco a pouco, esvanecidas,
mais mortas que cortiça em velhas rolhas.
 
Iguais aos bons amores que se vão,
deixando, em nós, outonos tão tristonhos,
e nossas almas nuas e perdidas.
 
A primavera volta ao coração,
trazendo novo amor e novos sonhos,
prenuncio de outro outono em nossas vidas.

Brasília, 03 de Agosto de 2011.

CICLOS, PÁGINAS 21 A 24
Sonetos selecionados, pg. 84 (apenas o soneto I)
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 05/08/2013
Reeditado em 05/09/2020
Código do texto: T4420232
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