DIANTE DE UM PÁSSARO
Pássaro que alça voo sem pensar,
livre da inquietação da consciência,
me dê um pouco dessa sua essência
pra que meu voo eu também possa alçar?
Também já fui um passarinho do ar;
vesti, também, as penas da decência,
mas, de humano que sou, a consequência
foi a loucura de deixar de amar...
E o pássaro, pousado no seu galho,
assim responde-me, num tom suave:
Homem que nessa terra é vil e falho,
livre será, como eu e qualquer ave,
só quando, morto, sem mais ter trabalho,
a sua mão de todo mal se lave.