DUAS COISAS
Domado se entrega ao martírio do dia.
Em ônibus cheio, ele é presa da caça.
Precisa chegar à minaz padaria.
Jogar-se à cozinha, ir ao forno, tal massa.
No espelho quebrado, ela chora outra ruga.
Lamenta carente do céu, desencanta.
E pensa em fugir, mas de cruz não há fuga.
As pernas inchadas. A dor se agiganta.
Os músculos do homem sozinhos trabalham.
As fés da mulher nos entulhos se espalham.
Arrastam-se, coisas, na lama da vida.
Se juntam de noite, em rotina cuspida.
No duro do estrado se deitam, escudos.
E tentam falar-se; mas, tarde. Estão mudos.