O LOBO NO VENTO
Lobo manso e assustado flutua no vento,
tão vazio, levinho, revoa, revoa;
ele gira, acelera e prossegue-se lento,
tal puríssima pena, a plainar vão, à toa.
Lobo manso de agora deseja-se alento.
Que vergonha! Ter sido malvado o atordoa,
mas ninguém acredita em seu plácido intento
e por isso não acha o que o ama, perdoa.
O lobinho levita no céu inventado,
solitário, a sonhar um refúgio encantado
de criaturas amenas, que entendam perdão.
E persiste embalado no vento em que mora...
Vendo o bando egoísta e sozinho de fora,
se convence, ele vive em melhor solidão.