INVERNO

Os dias me parecem sonhos longos,

durante o inverno, quando é cedo escuro,

enquanto o tempo escorre sem futuro

e nos mosteiros repercutem gongos...

E as noites, de um tecido vasto e puro,

tecem contornos rútilos e oblongos,

nos telhados escuros, nos prolongos,

e o mundo é uma tristeza sem seguro.

O frio, sempre esse frio estranho e mau,

que me vara as entranhas, fundo, é tal,

é fruto da distância e da carência

da fonte, a principal luminescência...

E as noites se confundem com os dias,

sem qualquer tepidez, noites vazias...