Um câncer no pulmão direito
Um crasso câncer fez-se o bom cigarro,
Dentro do bardo, no pulmão direito.
Deu-se bem tarde p’ra se achar um jeito:
A morte estava viva em cada escarro.
Cravando a cara no negror do barro,
O bardo, aos prantos, preso sobre um leito
De sofrimento bruto, viu desfeito
O peito em sangue, dores e catarro.
Sem maldizer-se derramou seu choro,
Fez um febril soneto sobre agouro
E relembrou seus passos mui contente...
Sofrer por quê?... Na boca pôs um cano
Calibre 12 e fez o próprio crânio
Jorrar neurônios, sangue, ossos e dentes!