SONETO URBANO

O meu poema é feito de calçadas

Onde dormem mendigos junto a cães

Nas noites que jamais são estreladas

Não há flores nem bravos capitães

O meu poema é feito destes nadas

Mesmo que uma multidão nos acompanhe

Filhos de mães cruéis e assassinadas

Sem que Deus nos proteja e nos apanhe

Porém também aqui a chuva cai

Arrastando-nos a todos ao bueiro

E o engarrafamento aos poucos vai

Porém também aqui vejo o luar

Não aparece nítido nem inteiro

Pois os arranha-céus entopem o ar