Voz
Ganhei dos céus um lírico instrumento
Que diz em grifo a voz que à boca cala.
Ganhei a letra escrita como a fala,
A fala exterior de um pensamento.
Em cada letra aqui, um ai de dentro;
Um ai que nunca disse, um ai de gala.
Eu mudo-me ao que escrevo, trago a mala
e dentro dela todo sentimento.
O som destes fonemas fiéis conta
O que da língua nunca chega à ponta,
Mas fica a não dizer preso ao palato.
A voz que eu ganho em cada poesia
É bem maior que a voz que eu quis um dia
E fala em tom de singular ornato.