Dissonância

Eis que um mago, de genética e genômica

descendência da música, ó grande Apolo,

que nem Hermes com sua lira tão harmônica

ousaria revelar-me retumbante solo.

Mas o destino me legou a voz afônica

que entre acordes dissonantes, triste espólio,

no refinado ouvido explode atômica

e o tímpano dilacerado tomba ao colo.

Meu ruidoso brado ecoa em tal momento,

burlesco, cômico, grotesco instrumento,

violando normas dos ouvidos elegantes.

Pois num espaço que julguei ser democrático

só há lugar para os solfejos catedráticos,

mas, como surdo, lanço graves dissonantes.

Israel Emidio