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À QUE SE MUDOU [410]
                ‘Por que não paras, relógio?’
 


À solidão das horas, faz luar.
Da minha esquina, pela noite alta,
d’alguém pressinto já dorida falta:
para enganar-me, ponho-me a cantar.
 

Sob um clarão, de estrelas à ribalta,
canto O relógio, num cantarolar
triste, dolente, meio que a chorar,
em grã tristeza, por demais peralta.
 

Canto a canção, porém assim baixinho.
Meus ais expressam dor, redemoinho:
manhã seguinte, irá mudar-se aquela.
 

Irei mais vezes pôr-me àquela esquina,
ligado à que por quem meu eu se inclina,
mas sem de lá revê-la, na janela.
 

Fort., 02/05/2013.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 02/05/2013
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