As Intermitências da Morte ( À José Saramago)
A morte, essa tão fatídica dama
Que visita-me a noite, escondida nas sombras
Assenta-se muda ao meu lado na cama
Sua face, negra e óssea, rir-se e de mim zombas
Essa mulher de fartos e dilacerantes contornos
Que não mais me ver com os olhos, mas me sente com a alma
Deixa-se despir dos seus negros adornos
E deita-se nua, suave e lânguida a perturbar-me a calma
Não me recordo se é o delírio do fim o que me consome
Mas sinto dentro de mim, algo que não tem nome
Será, pois, que estou a me apaixonar!?
No fundo dos olhos de órbitas vazias
Na fria pele de sedas nada macias
A morte, essa senhora, me mostra as mil faces do verbo amar....