SONETO DA FOME
Se do homem a fome rouba a liberdade,
Como cobrar do faminto honestidade?
O ronco estomacal vence a voz da consciência.
Maior indecência é sua não saciedade.
A fome bestializa, embrutece, maltrata,
Tira a saúde, a energia vital, e mata.
A fome não resulta de lei natural,
É criação humana, assim como a guerra.
Erradiquemos primeiro esse primeiro mau,
Nem que tenhamos de guerrear pra matá-la.
Depois o deitamos bem fundo sob a terra.
“A fome não é exigente: Basta contentá-la”,
Assim disse Sêneca, o estóico, sem gula.
Basta ter algo diário que se engula.