Bis.
Abro o caderno, rabisco a folha
É dúvida a escolha: soneto ou poesia?
Que chore ou que ria, acendo essa palha,
E o calor entalha, no meu verso, a agonia.
Não quero porfia entre acerto e falha
Afio a navalha que corta a heresia
É sempre mania que a rima me acolha
Espoco essa bolha, solto a simpatia.
Palavra, iguaria, alimenta meu verso
Ainda que inverso, sem muro ou mestrado
Não fico de lado, sou galo de rinha
É vontade minha, mas olhe, eu confesso:
Tropeço e levanto, é agonia e tanto...
Mas, por enquanto, me quedo ao soneto.
JRPalácio
Da doce porfia também sou devoto
Não posso negar o apreço que tenho
Feitiço ancestral mesmo sendo remoto
Me prende nas graças de sutil engenho.
Cedendo ao prazer que ganhou o meu voto
Envolto em magia, do resto eu desdenho
Queimo a adrenalina neste terremoto
Busco a perfeição e o bom desempenho.
Confesso por fim, seja carma esse gosto
Feliz eu me entrego e disso me ufano
Nestas viravoltas porém o meu dano.
Descubro a loucura que num pressuposto
Deixa-me à mercê de redil profano
Mas amo o soneto e nunca me engano.
ANA MARIA GAZZANEO