Cálice

Adentreis profundo em abertos cortes,

onde à mingua reside minha essência.

Aos poucos minam minha conscência

e incertezas vagueiam sem um norte.

É tempo em que o corpo vai à falência,

com a evidência de um divino suporte.

Sei que a vida não finda-se na morte,

que morrer é não viver na turbulência.

Calo-me, pois minha hora é chegada.

Fim da estrada, o meu dia chegou...

Minha existência já está consumada.

O meu tempo tarda... Oh, quão grande dor!

É o vinagre que a minha alma traga

às vísceras, um cálice, cheio de amargor.