SONETO AOS VIVENTES
Ó tu, vivente amado, agarra firme a chance
Que em minha natureza a ti foi concedida.
És candidato ainda à verdadeira vida
E tudo eu fiz visando, a quem quiser, o alcance.
De nada importa, ó homem, se és tu bom ou mau:
Eis que te concedi a vida em condição.
Tem mérito quem herda a luz e a perfeição,
Ou culpa, o cego ou coxo em ter nascido tal?
Tudo o que tens, vivente, é uma migalha enfim
De todo amor por ti que está guardado em mim.
Confia que eu te molde e escuta a minha fala.
E quando o Mal morrer por se tornar inútil,
Os verdadeiros vivos vão saber quão fútil
A vida foi pra quem não quis eternizá-la.