Berlinda
Edir Pina de Barros
 
Olhei-te feito quem jamais te houvesse visto,
sentindo, dentro em mim, vazio sem igual,
a exata sensação de um golpe vil, fatal,
de alguma grande dor, sangria ou imprevisto;
 
senti-me como um peso, em tua vida, um quisto,
a fonte de um penar, o centro de algum mal,
princípio de algum fim, um tenebroso umbral,
dos males o maior, ou muito mais que isto.
 
Jamais entenderás - por ser intraduzível -
o quanto padeci calada no meu canto,
do mal que me causou, e que me causa ainda.
 
Contudo,  sei dizer do sentimento horrível,
da enorme solidão e mais profundo espanto
de quem se sente exposta à mais cruel berlinda. 

Livro: ESTILHAÇOS, pg. 51
Tela: A. Cabanel

 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 18/01/2013
Reeditado em 17/10/2020
Código do texto: T4091740
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