Última Flor do Lácio
Soneto "Língua Portuguesa" de Olavo Bilac
Uma breve análise.
Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formam a tríade parnasiana. Acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição e não no mundo exterior.
Observe o soneto de Olavo Bilac:
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio inculta e bela
És a um tempo esplendor e sepultura
Ouro nativo que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto canglor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo teu viço agreste e teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênero sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
ANÁLISE LITERÁRIA
1ª estrofe
- A última flor do Lácio é uma metáfora.
- A língua portuguesa foi a última língua neolatina fornada a partir do latim vulgar que era falado pelos soldados na região italiana do Lácio. Observe os adjetivos inculta e bela.
- Há um paradoxo: esplendor - uma nova língua estava ascendendo, dando continuidade ao latim; sepultura - a medida que a língua portuguesa se expande, o latim vai "morrendo", isto é, cai em desuso.
- Nos últimos versos o poeta exalta a língua que ainda não foi lapidada, em corporação às outras também formadas a partir do latim.
2ª estrofe
- É dada ênfase à beleza da língua em suas diversas expressões: emoções, louvores, etc.
3ª estrofe
- Percebe-se uma relação subjetiva entre o idioma novo recém-criado e o "cheiro agradável das virgens selvas". Isto caracteriza as florestas
brasileiras ainda não exploradas pelo branco. Manifesta a maneira pela qual a língua foi trazida ao Brasil, através do oceano, numa longa viagem de caravela ( ... de oceano largo).
- O idioma precisava ser moldado.
- Impor a língua a outros povos não era fácil. Implicava em destruir a cultura.
4ª estrofe
- Faz referência a Luís Vaz de Camões que consolidou a língua portuguesa com sua obra "Os Lusíadas", epopeia que conta os feitos grandiosos dos portugueses durante as "grandes navegações". Camões foi exilado aos 17 anos nas colônias portuguesas da África e da Ásia.