Glosa a duas mãos de Machado de Assis
"Há numa vida humana cem mil vidas"
(Olavo Bilac, Vita Nuova)
Escrevo-te, querida, com a angústia
das lágrimas que caem e se bifurcam,
sabendo que a alegria que me furtam
furta a alegria que preside a hóstia.
Desola-me a indiferença que exala
do coração que emudece na treva,
enquanto a treva meu amor eleva
pelo amor que levas, mas que se cala.
E quando vago por teu vago olhar,
na solidão a dois da alma entendo
que a vida é não mais que um sopro ligeiro
que, pois que sopro, integra-se no ar,
pássaro passageiro remetendo,
querida, ao pé do leito derradeiro.
* Matheus de Souza - 1º quarteto e 2º terceto
Renan Caíque - 2º quarteto e 1º terceto
PS.: o último verso vem do primeiro verso do soneto "À Carolina", de Machado de Assis [1838-1908] publicado como dedicatória do livro "Relíquias da Casa Velha"[1906]. Refere-se à morte da esposa do escritor, Carolina [1835-1904].