Espectral
Quando se acumularem anos em minhas pupilas,
que imersas no futuro se precipitam e se movem,
naturalmente haverá um poema de feri-las,
por lembranças de quimeras e perfumes de jovem.
Porém, é propósito deixar inflamada esta ferida
silenciosa em versos, para guardar nos tempos
os sublimes instantes de prazer tidos na vida,
enquanto mocidade repleta de descontentamentos.
Virão incitar-me os triunfos da adolescência
(dores insensíveis — amores voláteis, repelidos),
a ânsia perene, os planos além, o sonho desfeito...
Então derramarei lágrimas à própria decadência,
esmagadas na parva saudade dos anos transcorridos,
verdes auroras — inscritas na cruz do lúgubre leito.