Vi, ao vivo, a morte lenta dos animais e de seus donos. Eles os têm como filhos e os assistem até o final, dando-lhes, doidamente, a água barrenta que lhes hão de faltar em breve, mesmo sabendo que a morte já se apossou das bocas que insistem em molhar. De doer é ver-lhes, lacrimosos, chapéus na mão, a bendizerem os céus, a se curvarem ante os desígnios do Pai...  Santos homens, santa gente, santos animais!...
 
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NOVELAS DA VIDA
Odir Milanez


Carcaças cobrem o chão, um chão sombrio
a parecer painel de alguma guerra...
Não pode ser de Deus esse alvedrio!
Quem com sede e com fome o pobre aferra?


O sol seca o que resta ao raso rio,
as gretas gravam cruzes sobre a terra,
o sertanejo assunta o som do estio:
o bezerro, abatido, já não berra.


A morte afia a foice e segue a sega.
Vetustos mortos-vivos velam velas
em meio às orações, que o santo nega.


Crianças desnutridas, todas elas,
anjos que as mães aos céus cuidam da entrega,
enquanto a vida assiste a vãs novelas!



JPessoa/PB
10.11.2012
oklima

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Sou somente um escriba
que ouve a voz do vento
e versa versos de dor...

 





 
oklima
Enviado por oklima em 10/11/2012
Reeditado em 10/11/2012
Código do texto: T3978602
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