O AMOR CHEGOU SEM AVISAR
O amor chegou sem avisar,
minha porta estava aberta
e minha casa vazia
e ele, o amor, nem perguntou
se eu estava preparado,
e eu não estava.
Ainda havia em minha pele
marcas de unhas femininas
e no coração uma tristeza,
mágoa de uma história sem beleza.
Mas o amor chegou
e eu não o reconheci,
porque simplesmente
nunca tinha visto o seu rosto,
foi a primeira vez.
Então ele brincou no meu quintal,
cantou músicas pela minha boca,
me deu apetite voraz por comida
e pela vida
e dormiu na minha cama,
tornou-se o meu perfume,
deu-me segurança
e uma pitada de ciúmes
e me fez feliz.
Um pássaro de canto triste
foi solto da gaiola,
um velho senil
fez-se gênio e criança,
o sol mostrou sua face
depois de um longo inverno.
O amor chegou sem avisar
e foi melhor assim,
porque eu teria trancado a porta
por medo.
Vazio...
O vazio estende-se pela imensidão
A imensidão de mim, de meu labirinto
Vazio, simplesmente vazio...
Somos ocos, somos nada...
Somos sono, somos letargia
Entorpecidos caminhamos
Embriagados dançamos
A dança do medo, do apego
A esperança futura alimentamos
Sentar a direita do que está no centro
E do viver agora, nos distanciamos
A ampulheta não cessa, cai a areia
O vazio idealiza as linhas do tempo
A idealização do tempo consome a vida
O tempo volta a ser o vazio
E o vazio o tempo
O que foi deixou de ser
E o que é, não será mais.