Nada que sinto
Nada que sinto é verdade, é real:
toda realidade que me toca
pretende despertar em mim sempre o
oposto do sentimento que invento.
Nada que me atrai é sincero, certo:
os olhares que me invadem nunca
sabem se apenas querem olhar ou
se anseiam loucamente serem vistos.
Nada do que escrevo me pertence...
as palavras que me vem, se me vem,
vem de outro alguém, não nascem em mim.
Nada, enfim, que amo me encanta:
assim como a água muda a terra,
vens no vento, e apaga-me a chama!