ABANDONADO
Pobre coitado, sozinho naquele canto,
Parece querer virar pássaro e voar
Sobre as nuvens, ou sumir no mar
Como um peixe, tudo por desencanto.
O homem acaba-se num único pranto,
Um pensamento à sua mente povoar
Como tortura eterna de um trovoar,
Clarões de memória: demônio ou santo?
Hoje, vende latas, vive com coisa pouca,
Nada mais quer, largou até a herança;
De bebida e cigarro a voz está rouca.
Mas sempre com a mesma voz mansa,
Diz que irá morrer com a mente louca;
Coitado, nem sabe o que é esperança.
(VictorAMPinheiro)