O RESGATE

Alhures, no etéreo Cosmo, o meu espírito peregrino
vagueia em abandono entre lençóis de nuvens claras.
Figura-me quer ser um anjo branco a cantar hinos,
tangendo a fina lira, sonante voz limpa e preclara.

Migalha oriunda do Nada, ele anseia provar dos manjares
servidos à mesa dos deuses no ofício perfeito e divino.
Forma impura, porém, não fulgura em clarões regulares,
lhe falta o manto de santo, um véu claro, talvez,  hialino.

Amargo se encolhe em si mesmo assustado e medroso,
se ousou sonhar alto foi porque não se via andrajoso,
imerso nos negros miasmas de uma origem funesta.

Mas eis que a Esperança o socorre - sua fronte levanta,
a voz que jaz presa se solta expandindo a garganta,
e o Amor bem maior, o resgate entre risos de festa.