Deserto

Vi um homem andando numa lavoura de trigo.

Perguntei. Senhor está inventando estradas?

Não meu amigo. Respondeu em triste toada.

E que diante de tanto deserto sinto-me perdido.

Como podes sentir-te perdido em meio a uma plantação.

Foi Tenório, seu irmão que jogou esta semente ao chão.

Perdido estou. Assim me sinto, não vejo rumo.

Em pensar no que falta me tonteia, perco o prumo.

Não ouço a saracura cantar antes da chuva,

Não sinto cheiro do zorrilho comendo uva.

Faltam-me os pássaros pra coroar a placidez.

Estou só, em uma solidão que só vejo homem,

Não é como era, é um deserto que nos consome.

Que os que virão nos perdoe pela insensatez.