ATMOSFERA AMBIENTE & MAIS

ATMOSFERA AMBIENTE I (23 AGO 12)

O gato te interroga, em seu olhar,

ele percebe as nuances de teu ser,

a atmosfera consegue perceber,

que até parece em magia observar,

os seus bigodes feiticeiros a eriçar,

quando te encara com alheio parecer,

a discernir o que queres esconder

e por instantes, até parece te julgar

e mesmo demonstrando ter confiança

de que não vai ser espancado em vão,

que tem segura qualquer refeição,

ainda te fita com toques de esquivança,

porque parece até te ler o coração,

sem que condene, nem tampouco dê perdão.

ATMOSFERA AMBIENTE II

Também o gato interroga o ar ambiente,

seus olhos seguem invisível poeira,

os seus ouvidos da vibração a esteira,

além daquela que para nós é abrangente.

O seu olfato é também mais pertinente

que o nosso, de extensão bem mais ligeira;

seu paladar decerto alcança a verdadeira

sutileza de um sabor amplo e pungente.

Talvez seu faro seja inferior ao dos caninos,

que se especializaram para o reconhecimento

do cheiro de outros membros da alcateia;

mas são sensíveis as narinas dos felinos

às mudanças de humor e sentimento

de que os humanos possuem larga assembleia.

ATMOSFERA AMBIENTE III

Também reagem às mudanças de pressão:

as tempestades preveem, como barômetros,

as mudanças do calor igual termômetros,

de muito longe eles escutam o trovão

ou a umidade nas gotículas que estão

transportadas pelas brisas, são hidrômetros,

sentem o vento à maneira de anemômetros,

pelos bigodes a captar a vibração,

pois bem mais próximos estão da natureza:

só há alguns milênios domaram as mulheres,

enquanto os homens domesticaram os caninos;

ou talvez as crianças, por pura gentileza;

e assim criados junto a nossos quefazeres,

nos obedecem muito mais do que os felinos...

ATMOSFERA AMBIENTE IV

Mas os gatos se eriçam com frequência,

quando nada percebemos ao redor

e muitos creem que veem algo pior,

talvez fantasmas ou duendes de potência,

pois ficam contemplando, com paciência,

esse canto vazio, em que o negror

se condensa, qual vigiando algum horror,

que nos espreita e comunica decadência.

Dizem que têm um sétimo sentido,

embora os uivos dos cães igual pressintam,

mas com seus olhos gelados nos contemplam,

sem que o amor seja neles refletido:

são os nossos temores que assim pintam,

esses miasmas que os medos nos contentam.

CORAÇÕES MUDOS I (24 ago 12)

“Quanta gente que existe, quanta gente,”

que se conserva de coração calado,

que não se atreve a cometer qualquer pecado,

salvo esses da inação indiferente!

São bem diversos do verdadeiro crente,

que tem coragem, no mesmo asado,

de conservar seu ideal inquebrantado,

por mais que a tentação seja premente.

E nada tem a ver com a covardia

desses que nada fazem, por ter medo,

na timidez de fracos corações

ou quem no romantismo se acolhia,

deliberada escolha do segredo,

no matrimônio dolente de ilusões!

CORAÇÕES MUDOS II

Não é que fujam do mundo, mas se isolam

no recompor do coração partido,

após primeiro amor desiludido;

do inatingível em seu cantar consolam

e facilmente de outrem se condolam,

outro peito ao verem malferido;

o seu amor pela amizade travestido,

vivem alegres, só por dentro choram.

Porque o ideal não alcançado ainda adoram

e tangem liras e harpas sem sentido,

ao se absterem de buscar o inatingido;

e é esse amor do impossível que namoram,

sem se esconderem em torre de marfim,

flores apenas a plantar em seu jardim.

CORAÇÕES MUDOS III

E cumprimentam cortesmente o amor antigo,

quando o encontram, de passagem, pela rua;

uma outra carne, à noite, abraçam nua;

em outro corpo seu carinho tem abrigo.

Mas essa mágoa a carregar consigo

e que os leva a prantear à luz da lua

com permanência no seu peito estua

e nunca buscam o alívio do castigo,

pois, em geral, aceitaram casamento

ou pelo menos, ligação de permanência

e aos filhos se prendem por dever,

sem quebrantar o novo juramento,

forjado não de amor, mas de paciência,

pois poucos podem em solidão remanescer.

CORAÇÕES MUDOS IV

Mas lá no fundo, como se revoltam!

a culpar o parceiro em sua mudez;

e mesmo que um amor sincero dês,

em seu suave desespero se rebolcam

e se controlam, só raramente soltam

esses súbitos rasgos de dobrez,

disfarçados de ressentimento ou altivez,

quando de fato à própria mágoa voltam.

Se por acaso nestas linhas me descrês,

lembra das frases proferidas sem paciência,

nesses momentos de alheio palpitar...

Também és tu assim, que aqui me lês?

Trazes no seio as cóleras da ausência

Ou te ressentes por que as traz teu par?

OS OLHOS DE HELENA I (25 AGO 12)

Toda mulher amaria ser Helena

e despertar dos homens a cobiça,

a tal ponto que, aprestados para a liça,

só por ela disputassem a verbena...

Ao menos é o que dizem. Que a vaidade

é alimentada assim, vendo a disputa,

que mais mulheres se sentem, nessa luta,

tal qual Helena, lá na Antiguidade...

Pois Tróia, por sua graça e sua magia,

durante tantos anos demonstrara

quais malefícios que ela podia trazer!

Que a tanta coisa a sua beleza destruía,

embora toda a vida a conservara,

sem que a velhice a fizesse fenecer...

OS OLHOS DE HELENA II

Mas só imagino o que sentiu Helena,

durante os largos anos da velhice,

perdendo aos poucos toda a sua ledice,

na decadência mais digna de pena;

pois morto Menelau, deixada só na cena,

seus vinte pretendentes, qual se disse,

mortos em Tróia ou de quem mais não ouvisse

galanteios quaisquer ou frase amena.

Esquecida dos deuses, seus irmãos

transformados em zodiacal constelação,

Clitemnestra pelo filho justiçada,

seu ventre estéril, sem receber das mãos

dos próprios filhos outra consideração

que em canto do castelo tolerada...

OS OLHOS DE HELENA III

Na verdade, todos temiam até olhá-la,

pois diziam haver estrelas em seus olhos,

que penetravam de uma alma até os refolhos

e que poder conservava na sua fala...

Somente a velha serva a acompanhá-la,

de sua beleza apenas os escolhos,

considerada não melhor do que trambolhos

acumulados no quarto a conservá-la...

E existem tantas que como Helena vivem!

Perdida a mocidade em mil loucuras,

sem alcançar a velhice em plena calma,

enquanto as dores da lembrança as crivem

dos cacos tristes das passadas formosuras,

suas mãos lavando no fogo de sua alma...

BOM-DIA AO DIA! (26 AGO 12)

Pense sempre no dia em que hoje vive

como uma dádiva que os deuses lhe fizeram;

não é casualidade, se lhe deram

um dia a mais... Eu mesmo já estive

nesse lugar de ingratidão, rilhando

os dentes contra o fadário indesejado

e todavia, por mais esteja cansado,

permaneço os meus dias apreciando.

Pois o sangue ainda corre nas minhas veias,

o suor ainda me brota pelos poros,

em minhas sinapses pululam pensamentos;

e meu presente, mesmo em cinzas teias,

como um presente das horas nos seus coros,

também contemplo com gratos sentimentos.

BOM-DIA AO DIA!...

Embora muita vez, surgida a aurora,

do novo dia só pense com cansaço,

pois só trabalho e dor no seu regaço

reservam para mim hora após hora.

Mas passado o rigor mortis que a demora

das horas de inconsciência, em seu compasso,

causam nos músculos e ossos, cada passo

vai diminuindo o peso desse embora.

E me disponho novamente a labutar,

pouco importando da paga a mesquinhez:

ninguém justiça jamais me prometeu.

E fico assim, a novas horas pastorear,

cada uma delas me encarando, em sua nudez,

sem que um sequer de seus momentos seja meu.

BOM-DIA AO DIA! III

Porque, de fato, só possuímos esse instante

em que o passado confabula com o futuro

e o seduz a ser antanho puro,

todo o porvir em corrida alucinante...

E esse momento que passa, delirante,

sem que o possamos jamais manter seguro,

toda essa fita a escorrer do pleno escuro,

até que esgote o seu fluir constante.

E só podemos, então, agradecer

porque essa faixa não chegou ao fim

(em geral, nos surpreende quando acaba...)

e quando se julga tranquilidade perceber,

é quando chega, qual ladrão, assim,

esse ponto final que menoscaba!...

BOM-DIA AO DIA! IV

Cada um de nós um leque traz nas mãos,

que nossa vida não é uma serpentina,

ou uma fita adesiva que se afina,

mas tem centenas de possíveis direções,

que se bifurcam em incontáveis situações;

traz a sorte os cabelos numa crina,

que é preciso segurar quando a menina

chega em caprichos a mostrar-nos ilusões.

Tal como num naufrágio é a palha curta

que determina quem será o sacrificado,

por que os demais possam sobreviver,

a escolha é tua, para a senda que assim surta

dentre teus dedos, no momento asado,

do longo fio que soubeste perceber...

BROTAÇÃO I (5 JUL 06)

Não me deixes secar, mulher feita de orvalho,

Teu corpo almiscarado oculta tantas almas!...

Umas me querem bem, outras são calmas,

Outras me odeiam, outras me acham falho

Em relação ao ideal que sempre havias buscado,

Embora pela vida um tal ideal seguro,

Por mais que procurasses, sempre mostrou-se impuro:

Por gozo material foi sempre maculado...

Mas para mim, mulher, és pura inspiração,

Aquela que molhou meus ossos ressecados

E neles insuflou a vida novamente...

Não te afastes de mim, tão só por negação

Dos sentimentos puros, nas veias revelados,

Dessa chuva de sangue que me explodiu na mente!...

BROTAÇÃO II (27 AGO 12)

Eu te suplico assim, não por perdão,

Que nada fiz para ti torpe ou mesquinho,

Mas que derrames qualquer gota de carinho

Sobre a secura em que está meu coração.

Pois não me atendes, em tal preocupação

Com coisas outras de vezo comezinho

Que te parecem valer mais e então, sozinho

Me abandonaste sem mostrares compaixão.

Talvez calcules que disso nem preciso,

Porque de tanto julgas precisar

E quanto dei soubeste bem aproveitar,

Mas passa o tempo, em seu dolente guizo

E as gretas vão surgindo lentamente

Ante esse olhar que me fita indiferente.

BROTAÇÃO III

Talvez o fato de sentir-me desprezado,

Ainda que estejas a meu lado tão frequente,

Seja a própria razão dessa potente

Brotação de meu jardim imaculado.

Em cada verso um sofrimento rebrotado,

Cada soneto uma lágrima plangente,

Em cada título uma súplica premente,

Cada canteiro totalmente descuidado.

Porque a mim mesmo com meu sangue rego,

Sendo orgulhoso demais para chorar:

Não tenho lágrimas para os reverdecer.

E no entanto, a ti ainda me apego,

Nessa esperança talvez vã de retornar

Esse carinho que só vi empalidecer.

QUERY CAT I (28 AGO 12)

O gato de expressão indecifrável

contempla agora um lugar indefinível.

Por intenção ou coincidência incrível,

coroado de interrogação irrefragável.

Na verdade, é só um gancho nesse nível,

a suportar um vaso ponderável...

Mas adiciona altivez incontestável

a tal rostinho curioso do invisível...

Parece dar uma atenção notável

a qualquer coisa meio imperceptível,

talvez não mais que centelha perecível,

mas tal felina face do imutável

talvez pondere apenas condenável

intenção de captar tal luz visível...

QUERY CAT II

Naturalmente, essa expressão de esfinge

é o resultado de má musculação.

Os animais têm muito menos expressão

que a variedade que o rosto humano atinge.

É somente o seu olhar que assim se tinge

do que parece ser maior conotação.

É o reflexo da luz, em refração

que em suas pupilas contrácteis se cinge...

Mas ele franze melhor as suas narinas

e as orelhas empina, bem faceiro

e seus bigodes se eriçam, com certeza,

em percepções talvez mesmo sibilinas,

enquanto fixa seu olhar interesseiro

nalgum bichinho escondido sob a mesa...

QUERY CAT III

Basicamente, é só um caçador;

mesmo que tenha o alimento garantido.

Sua língua áspera qual arpéu já estendido

para uma presa de menor valor...

Sobre ela salta em seu veloz ardor

e já tem o pobre inseto ali prendido.

Para brincar, é um carrasco divertido,

sem sentir a menor pena de sua dor...

De fato, quando o mata, perde a graça;

e é o que faria com sua dona, se crescesse

e sobre ela seu olhar se agigantasse,

porque felino nenhum amor abraça

e se a mulher, por acaso, se encolhesse,

é inevitável que também a maltratasse...

QUERY CAT IV

Talvez por isso, muitas mulheres apreciam

esses gatinhos cheios de maldade.

Em si percebem qualquer equalidade

e no que fazem, a si mesmas percebiam...

Pois seus rancores dos corações espiam,

a vingança a esperar, em frialdade...

Até que surja sua oportunidade,

quando suas vítimas, com prazer, judiam.

Diversa índole nos cães a gente via:

saem brigando por vales e por morros,

mas só no instante no qual se enfurecem;

por isso os homens, na sua maioria,

preferem o imediatismo dos cachorros,

que se encanzinam, mas depois esquecem...

RIO DE MIL CORES I (29 AGO 12)

As águas que percorrem os penedos

parecem tintas de sangue vegetal

ou das hemácias vermelhas do animal,

tintas das nuvens e do céu, em mil segredos.

Tintas do negro que escapa dos rochedos,

ou do amarelo da ambição mortal

ou do laranja icterício da fatal

morbidez que escorre dentre os dedos

de quem rasgou o leito desse rio,

abrindo a terra com a ponta de suas unhas,

setenta cores do arco-íris testemunhas,

nessas águas que demonstram tanto brio,

águas da vida mineral em cunhas,

que se encachopam no cintilar do frio.

RIO DE MIL CORES II

Esse rio, de tantos montes desafio,

e que se arrasta em plácido esplendor,

fácil esconde das batalhas o calor,

quando rasgou das colinas o vazio...

Quando as pedras arrancou, em calafrio,

quando a terra transportou, com seu labor,

quando passagem exigiu, com mais ardor,

nessa força poderosa de seu cio.

Quem olha agora o seu fluir tranquilo

da luta antiga bem pouco desconfia,

mas essas cores ainda denunciam

a força da insistência desse filo,

a que nenhum penhasco resistia,

enquanto em desgastar mais insistiam...

RIO DE MIL CORES III

Porque as águas se acumulam, lentamente,

buscando seu orgasmo, em gravidade;

sobem aos poucos, com serenidade,

a pressionar quanto encontram pela frente...

E aqui acham uma fenda ou diferente

composição na rocha, opacidade

que indique ser menor a densidade,

e ali se infiltram, de forma permanente...

Ou aos poucos crescem, até que superpõem

a sua lâmina cortante e delicada

e gota a gota pingam do outro lado,

enquanto, em fortaleza, se compõem,

gastando aqui, rebaixando uma beirada,

em seu trabalho pelos séculos apoiado.

RIO DE MIL CORES IV

E a alma humana é semelhante ao rio:

quando é retida, impulsiona para a frente

e a pouco e pouco, em insistir frequente,

destrói aresta e obstáculo, em seu brio.

E a gente vê o resultado, pronto e frio,

sem perceber-lhe o esforço tão ingente

que permitiu sua formação valente,

quanto custou-lhe em suor e em arrepio!

Tingida está, igualmente, de mil cores,

enquanto passa, lentamente, pela vida,

carregada de ardor e de paixão.

E oculta apenas sob a capa dos amores,

os seus rancores numa vasa recolhida,

que ainda arrasta em seu lodo uma ilusão.

NAVEGANTE FANTASMA I (30 AG0 12)

ALGUM DIA, IREI ERGUER O MEU CASTELO

ALICERÇADO EM OSSOS. A ARGAMASSA

SERÁ MEU PRÓPRIO SANGUE. VOU À CAÇA

DE TIJOLOS DE CARNE. E O SONHO BELO

ERGUEREI EM LUGAR ANTES SINGELO,

TORRE APÓS TORRE, O VERO PAGAMENTO

DAS IMPLOSÕES QUE TRAGO AO PENSAMENTO,

DOS RESULTADOS DO RENITENTE ZELO.

SEMPRE SERÁ, ENFIM, PEQUENA MORTE,

PORQUE TANTO DE MIM ASSIM ESPALHO

NESSA ENXURRADA PELA MENTE ABERTA!

QUE OUTRO QUALQUER, PARA POSSUIR TAL SORTE,

PRECISA TER MUITOS ANOS DE TRABALHO

E MESMO ASSIM, INVEJA AINDA DESPERTA!

NAVEGANTE FANTASMA II

NESSE DIA, EU MONTAREI A MINHA ARMADA:

SERÃO MINHAS VEIAS CORDAME E MOLINETES,

MINHA PELE A BUJARRONA E OS JOANETES,

MEUS DENTES A ERIÇAREM-LHE A AMURADA.

MEU CORAÇÃO INSTALAREI À LUZ AIRADA

COMO O LEME DESSE BARCO DE CADETES:

NAVIO-ESCOLA EM DERROTA PELOS sete

MARES DO ARCO-ÍRIS DE BANDEIRA DESFRALDADA.

SERÃO AS TÁBUAS QUE FORRAM O CONVÉS

OS MEUS SONETOS DE MÉTRICA PERFEITA:

NÃO ACHARÃO NELAS EMPENAS, NÓS OU FUROS.

E OS ESTUDANTES SEGUIRÃO MINHAS FÉS,

A NAVEGAR NA POESIA, EM ESCORREITA

ONDA DE RIMAS E DOS RITMOS MAIS PUROS.

NAVEGANTE FANTASMA III

NATURALMENTE, NÃO SEREI O CAPITÃO,

MEU CORPO INTEIRO NA BARCA TRANSFORMADO,

NEM SEQUER UM ALBATROZ, EM VOO ALADO,

E MUITO MENOS A ARMADILHA DE UM TUFÃO.

OUTRO VIRÁ PARA FIRMAR ESSE TIMÃO,

COM BRAÇO FORTE E OLHAR ABRILHANTADO,

LUZ DE PAVIO NO SEU PEITO ILUMINADO,

PARA LEVAR ADIANTE ESSA INSTRUÇÃO.

EU DE HÁ MUITO TEREI PRONTA MINHA TAREFA

DE RENOVAR OS MODELOS DO PASSADO,

PELOS FALSOS POETAS DERRUÍDOS;

E A MEU VELEIRO CHAMARÃO DE “ESTETA”,

A DIFUNDIR O MEU VERSO ATRIBULADO

ENTRE OS MIL IMITADORES CONSEGUIDOS.

NAVEGANTE FANTASMA Iv

O MEU CASTELO SERÁ ERGUIDO NESSA PROA,

EM QUE SE ALOJAM OS POBRES MARINHEIROS;

NÃO BEBEREI DOS VINHOS ESTRANGEIROS,

NO CASTELO DA POPA, EM QUE SE ENTOA

O ORGULHO DE QUEM BUSCA A PRÓPRIA LOA.

MAS OS MEUS VERSOS SERÃO OS PASSAGEIROS

DOS CAMAROTES, OCUPADOS POR INTEIROS,

SEM QUE BUSQUE PARA MIM UMA COROA

QUE PASSAGEIRA SEJA E TRANSITÓRIA.

MEU NOME QUE SE PERCA DA MEMÓRIA,

PORÉM QUE MEUS POEMAS PERMANEÇAM

NA FRAGOROSA MULTIDÃO DOS PLAGIADORES,

QUE À SUA MANEIRA COPIARÃO OS MEUS ARDORES,

POR QUE MILHARES DE CORAÇÕES AQUEÇAM!