JANGADA

Eu meditava em fins do tempo mudo –

O princípio ao qual a Idéia nasce,

Como se o sal do Cosmos desse a face,

E o nada lambuzasse com o tudo.

Por um pólen de luz, apascentasse

Em rubor de mistério e de veludo,

O calar do sentir em que me iludo

Ao soprar o dizer que n’alma faz-se.

E pulsasse aquarelas do infinito,

Com letras garrafais da humana lida,

O espírito-tinteiro desse grito.

Mas depois, de tristeza fulminada,

A chama que vestiu e foi vestida,

Deixou nas águas turvas, a jangada.