O ESCRAVO

Todos os dias, sob o sol curvado,

Cobre-lhe a costa um cordel de renda

De enxada às mãos, sereno, conformado,

Revolve o negro as terras da Fazenda!

Da estorricada pátria separado,

À noite sonha na horrorosa tenda:

Morta a mulher e o filho abandonado

Dos areais, na saturnal vivenda!!

E então enlouquecido, visionário,

Acorda – na paterna dor que mata –

E agride a todos, fero, extraordinário!

Depois... o tronco, os ais, a sorte ingrata!

Na dor mais triste, o negro solitário,

Morre sob a courama da chibata!

Do livro IRMÃOS DE SONHOS, PG.115, DE MINHA AUTORIA Lucas