Cais do Porto

Outra vez o amor que não se sente

volta frio a enganar o nosso ego;

a corromper o amor-próprio, a deixar cego

pra maltratar o nosso peito, a nossa mente.

Mas eu caio no seu leito já ciente

de que vai brotar de mim, depois, um nego.

Não cultivo seus carinhos, não os rego,

porque sou um passageiro, eu sou cliente!

E depois do nosso amor vem o cansaço.

Ficamos mudos, sem conversas, sem abraços,

a olhar-nos tão ingratos, tão pagantes...

Sentimos pena desse amor negociável,

mas o seu bolso é mais vazio e insaciável

que o prazer que lhe dão todos amantes.