Pai
(Silêncio)

Ao meu pai, Milton G. Moreira.
 
 
 
 
 
Permanece a impressão de que saíra ontem
em viagem imprevista para um país distante.
A alma embala, nessa saudade reconfortante,
os olhos de chegada atentos para o horizonte.
 
 

Mas cada esperança vã teima e suspira forte,
vem reconstituir fragmentos do seu semblante:
imagem lenta que se incorpora cambaleante,
incluindo um sorriso bravo em desafio à morte.
 
 
 
  
Seu abraço mantém a rudez da barba no rosto,
e desfila com passos frios os degraus do alpendre.
E a sala, em reverência, espera por sua voz abatida.
 
 

É solidão a sua demora: tanto dói quanto rende;
insensível, cala a todos no vazio do homem deposto,
e nos impõe, no adeus final, o fato da despedida.



 
Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 11/08/2012
Código do texto: T3825892
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