soneto do Trovador
Quando sai por ai dar seus bordejos, cheio de pejo,
Ah, não desafie, não imagine multidões em cortejo.
Lambido e cheiroso, aprumado num velho terno engomado.
Vai só, com vontade de roubar um beijo apaixonado.
À noite, quando o sereno desperta, molha a alma imperfeita.
Entre quarteirões e violões ousa em baixo de parapeitos.
Memoria aguçada, desferindo uma toada e assim encanta,
A dor d’alma que se esvai embalada num sonoro mantra.
Chora saudades, sem desespero, pois não seria outro o feitio.
Ah, então que o peito em apojamento trova tardio,
Contente com a réstia de luz pela fresta da janela fechada.
- Oh, linda morena do peito ofegante, que ainda estás acordada!
Sabes que a noite se foi plena, esta trova serena é meu pranto!
Vem, abre a janela, dá-me um beijo, pra que finde a madrugada!