Vida que passa
Sou o sem destino,
sou o pobre e esquecido,
sou aquele que de tanto envaidecido
"perdi-me dentro de mim"¹.
Quem sou este que tanto fala, que tanto reclama?
Aquele que apesar de se prostrar, não se cansa
de gritar, bradar, clamar
ao sabor do vento até ver o voejar
Das folhas quais se encontram à minha volta.
Vento surdo, soprar pudico o qual insiste em sibilar
aos meus ouvidos de sempre em sempre, que retorna...
Quem sou eu? Sou o que dorme ao sabor da desventura?
Perdido da família, preso somente às calçadas das ruas?
O sou, assim como também este que se perde sem cogitar
a Vida que passa à sua volta.
¹ - Uma boa lembrança: Verso da poesia de Sá Carneiro, Dispersão.