Soneto da morte ( III )

Sigo cego por entre o arvoredo

tacteando no escuro,desesperado

com as mãos tremulas de medo

e o coração batendo desenfreado!

Existe um vácuo frio que me esmaga

e que se abate sobre mim, sangrento

destruindo-me as têmporas com uma adaga,

que lanha fundo e me banha no rubro unguento...

Sinto-me então encolher, ficar pequeno

mingar, atingido por um qualquer veneno

desta existência estéril e sem sentido...

E banhado nesse sangue já seco

sinto que a vida entrou num beco,

e morro só, simples e sem abrigo...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 11/02/2007
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T377800
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