Soneto da morte ( II )

Estou vivendo rumo à morte!

Lentamente para ela vou caminhando,

percorrendo a direcção da minha sorte

e suavemente no silêncio enveredando...

A morte é um pesadelo constante

que interfere no sono dos que sonham

que a vida pode ser mais do que um instante,

e que nisso, todo o seu empenho ponham...

Por isso eu caminho lentamente

para longe do ruído que me faz demente

e penetro no silêncio que me faz contente...

Antecipo o fim de todo o ser vivente

e morro simples... Simuladamente!

No teu corpo, onde voltarei a ser gente!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 10/02/2007
Reeditado em 18/02/2021
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